domingo, 26 de fevereiro de 2023

Entendendo o verdadeiro significado do Dia da Mulher - Estado de Minas - inglês

Andrea Peres
Escritora, advogada feminista e especialista 
em direito das famílias e sucessões
Levando em consideração a celebração do Dia Internacional da Mulher que se aproxima e as conquistas da luta enquanto um movimento social, importante se faz historizar o Dia Internacional da Mulher e seu significado. Bem verdade é o fato de que o capitalismo tardio (*) aproveita-se das mudanças sociais de forma a se apropriar da história e dos esforços das pessoas. Não foi diferente no contexto norte-americano quando as mulheres da classe trabalhadora se reuniram para lutar por mais direitos sob o slogan “Nós queremos pão e rosas” no início do século 20.
No Brasil, as ‘contradições’ de gênero começaram a ter significado em nosso contexto histórico através de imposições do direito internacional. As estruturas sociais que nos condenavam a abusos, violências e ao não reconhecimento de direitos sociais e liberdade não eram produzidas de formas acidentais. Todavia, precisavam mudar sem que o capitalismo perdesse sua identidade.
Tudo se transforma em mercadoria mistificada cujo desembocar enseja num movimento disruptivo competitivo entre as mulheres no mercado de trabalho. Em outras palavras, aquilo que deveria não ser olvidado, a luta, a dor e a conquista de um dia de celebração no calendário gregoriano, perde-se na liquidez da razão neoliberal laboratorial, situação agravada nos países geograficamente localizados no capitalismo periférico, como a América Latina, África, alguns países da Ásia e do Leste Europeu.
É incontroverso o fato de que novas expectativas sob as mulheres foram construídas alicerçadas sob o discurso do empoderamento feminino em nossa sociedade conservadora, marcada ainda por narrativas capitalistas com falsas reivindicações que nos reduzem a uma identidade essencial, homogênea, que precisa ser celebrada dentro de uma lógica consumerista, na qual os interesses ainda são determinados por homens brancos e de posses.
Sob essa égide de reflexão histórica, política e cultural do ativismo e dos movimentos das mulheres, percebe-se que nossos corpos recebem marcas dessa cultura e dessa rede de poder. Por isso, se faz mister lutar por ‘Rosas’. Queremos pão, mas queremos rosas também, pois a luta enquanto mulheres deve ser pelo reconhecimento como questão de Justiça.
O reconhecimento por Justiça centrado em seu significado mais amplo, no qual não só os direitos fundamentais e sociais estão englobados, mas também adjetivados pela ótica da inclusão social, que corresponda às possibilidades sociais abertas à individualidade de forma ampla e direcionada a uma escala pluralista de valores.
A consequência da denegação desse reconhecimento continuará a afetar as mulheres no fenômeno da humilhação e do desrespeito. Por isso, urge que no cerne da luta das mulheres encontrem-se motivações e experiências morais com potenciais emancipatórios. Queremos rosas! Queremos condições sociais de autorrespeito!
*ABERMAS, Juergen. “A crise 
de legitimação no capitalismo tardio”, p. 11

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