terça-feira, 25 de junho de 2024

Editora com sede na França estreia com tradução de obra do escritor periférico Wesley Barbosa - Brasil de Fato - Paraná - Dicionário

Rouge Favela, obra do escritor paulista Wesley Barbosa, marca a estreia da editora BR Marginalia, iniciativa da brasileira Nichelle Teles, dedicada a traduzir obras de escritores periféricos afro-brasileiros na França.

Publicado em português, em 2022, com o título de Viela Ensanguentada, pela editora Ficções, o livro narra a história de Mariano, um jovem negro que mora em uma favela de São Paulo e sonha em se tornar escritor para contar sua própria história.

Barbosa tem se notabilizado pelas formas de divulgação de suas obras, inicialmente nas ruas, e também com forte trabalho nas redes sociais. O trabalho de literatura marginal e realista vem sendo adotado em várias escolas da rede pública. Em 2023, foi tema de concurso público da prefeitura de Guararapes (SP).

Mais de 10 mil obras vendidas

Wesley Barbosa é nascido na periferia de Itapecerica da Serra (SP), e exerce a escrita desde os nove anos. Publicou até o momento sete livros e vendeu mais de 10 mil exemplares de suas obras de forma independente, seja vendendo nas ruas e bares, pelas redes sociais ou em feiras literárias.


"Quebrar a norma imposta pelo mercado editorial em que vozes periféricas não são consideradas legítimas de serem publicadas ". Foto: / Pedro Carrano

Com tradução de Alain François, revisão de Vincent Achour e Nichelle Teles, e correção de Gayané Zavatto, Rouge Favela inicia os trabalhos de Teles dedicados à tradução francesa de escritores brasileiros, especialmente de culturas afro-brasileiras periféricas e quilombolas, que encontram-se à margem dos circuitos literários tradicionais.

Na memória, a ponte França-Brasil traz de imediato o inevitável diálogo entre duas escritoras negras - Carolina Maria de Jesus, cuja obra inspirou a escritora martinicana, que residia na França, Françoise Ega, que escreveu Cartas a uma Negra, dialogando com a obra de Carolina.

Contra a norma imposta

A editora pretende lançar duas publicações por ano, e busca “Quebrar a norma imposta pelo mercado editorial em que vozes periféricas não são consideradas legítimas de serem publicadas porque não respeitam a 'norma culta'. Quero publicar textos que sejam acessíveis a todes, tanto na linguagem e conteúdo, quanto no valor”, afirma Teles.

A capa de Rouge Favela é composta pela colagem “Seu mundo”, de Francisco Mesquita, artista periférico de Alto do Monte - Olinda, Pernambuco. Teles afirma que os próximos lançamentos também devem contar com obras de artistas que dialogam com os escritores, em poética e trajetória. A diagramação desta primeira publicação foi realizada pela designer gráfica May Solimar.

A BR Marginalia fica em Marselha, cidade mais antiga da França. “A criação desta editora é de uma certa forma uma homenagem à Carolina Maria de Jesus, minha maior referência de literatura marginal”, afirma Teles.

Rouge Favelaserá lançado em junho e vendido exclusivamente pelo site da editora, nas ruas e bares de Marselha. A partir de setembro, mês dos lançamentos literários na França, o livro estará disponível nas livrarias.

Wesley Barbosa: voz, redes e ruas


Em 2022 o escritor lançou "Viela Ensanguentada" seu romance de estreia que em menos de um mês vendeu mil exemplaress / Divulgação

Wesley Barbosa é natural da periferia de Itapecerica da Serra, em São Paulo, e autor de sete livros. Tem repercutido muito nas redes sociais pela correria de seu trabalho. De mão em mão, de feira em feira, enviando o livro empacotado para todo o país, sua obra tem ficado conhecida e adotada. Insere-se na mesma linhagem da escritores periféricos assumindo a própria história, caso do gaúcho José Falero.

Nas redes sociais, Barbosa narra como, ao trabalhar nas ruas, em metrôs, etc, divulgando sua narrativa popular, isso vai criando e formando um público. Foi por meio do Instagram que divulgou e vendeu seus livros para todo o Brasil. O escritor começou publicando uma coletânea de contos intitulada "O diabo na mesa dos fundos", trabalho editado pelo escritor Ferréz, autor de Capão Pecado.

Em 2022, o escritor lançou "Viela Ensanguentada" seu romance de estreia que, em menos de um mês, vendeu mil exemplares.
 
O escritor também desenvolveu um selo próprio, a Barraco Editorial, que prepara o lançamento do livro: Maria Firmina dos Reis, presente! de Lena Roque e Marcelo Ariel, peça-inovação da presença da negra Maria Firmina dos Reis, autora do romance Úrsula (1859) em que os pensamentos de seus textos e poemas foram corporificados em uma reconstrução poético-ficcional do que seria um encontro do público com a escritora e professora maranhense, falecida em 1917.

Trecho de Viela Ensanguentada:

"Dava pra ouvir os gritos de alguma mãe chorando na madrugada. Depois um silêncio de igreja, ou de cemitério, tomava conta de toda a favela, como se aquele fosse o prelúdio, ou o aviso indesejado, de que a qualquer momento um neguinho poderia ser o próximo corpo encontrado estendido na rua da viela, todo perfurado pelas balas da polícia", página 78.

Serviço: 

BR Marginalia

Contato

[email protected]

Redes sociais

https://www.instagram.com/br_marginalia/

Edição: Pedro Carrano


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