terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Por um País para todos: O significado de PRIORIDADE - http://www.novojornal.co.ao/ - inglês

Não se trata de uma palavra nova, daquelas que surgiram apenas na segunda metade do século XX ou já no século XXI, que até a minha geração ainda sente dificuldade em entender, tais como: flexitarismo, gentrificação, solomo, necropolítica, próbióticos, infodemia, negacionismo, entre tantas outras. PRIORIDADE é uma palavra antiquíssima e de fácil compreensão, mas raramente é entendida pelo nosso Governo, e, por isso, decidi escrever aqui o seu significado. Esta palavra vem do latim prioritis e em português diz respeito "à condição de algo que necessita ocorrer de maneira imediata, preferencial ou emergencial". De acordo com o Dicionário Etimológico de Língua Portuguesa, Vol.II, de 1967, de José Pedro Machado, prioridade significa "o que está mais adiante (em referência a duas pessoas ou duas coisas); o primeiro de dois, precedente, anterior, apontando o seu significado para o que é "superior, mais notável".

Alexandra Simeão

8 de Fevereiro 2022 às 09:35

A preocupação em esmiuçar a etimologia desta palavra tem a ver com a sua primazia em todos os sentidos da vida humana. No caso dos governos, esta responsabilidade ainda se torna mais exigente, pois o seu objectivo deve ser o de governar para conferir o bem-estar e a felicidade aos seus cidadãos e nada se pode colocar acima de uma prioridade, a exemplo da que seja identificada como sendo a que confere protecção ao bem vida.

Apesar das dúvidas que o Governo ainda tem em relação à existência da FOME em Angola, "a UNICEF apela a um financiamento de 26 milhões de dólares para apoiar programas que acudam mais de 7 milhões de angolanos afectados por diversas crises humanitárias, destacando que 2,5 milhões de crianças precisam de vacinação de emergência, 1,2 pessoas enfrentam escassez de água, 100 mil crianças precisam de serviços de protecção e 2,3 milhões necessitam de apoio educacional, de acordo com o Relatório ACÇÃO HUMANITÁRIA PARA CRIANÇAS 2022 - Angola, que nos chegou através de um artigo redigido pela Teresa Fukiady e publicado no Novo Jornal a 28 de Janeiro de 2022.

Nesta trágica notícia, tomámos conhecimento de que 14 milhões de dólares vão ser gastos em acções de nutrição, 2,5 milhões em saúde, 6 milhões para água, saneamento e higiene, 900 mil para serviços de protecção à criança e 2 milhões para a educação, sendo o resto para a despesa de logística. A pergunta que se coloca é: Mas isto é ou não é uma inequívoca prioridade que devia ter sido atendida pelo Governo desde o dia seguinte à tomada de posse?

Temos sido testemunhas da generosidade orçamental para fins completamente secundários se comparados com a defesa da vida humana. Ficamos chocados quando nos dizem que os recursos são escassos para atender às emergências e noutra mão se autoriza a construção de um aeroporto em Mbanza Kongo, com um orçamento de 150 milhões de dólares, justificado como "imposição da UNESCO"; se autoriza a despesa de 50 milhões para a conclusão e apetrechamento de um centro de ciência; se gastam 10 milhões para estarmos na Expo-Dubai; 150 milhões para a construção de dois estádios e um centro olímpico; se compram dois edifícios a um particular, por 114 milhões, para acomodar o Ministério dos Transportes, com tantos edifícios devolutos que o Estado tem em sua posse ou o absurdo número de pessoas que integram as delegações presidenciais, cuja elevadíssima despesa não traduz qualquer mais-valia no escasso resultado obtido, apenas para citar as incongruências mais recentes.

A lista da má despesa é uma verdadeira tortura, é obscena, é um insulto a todos os angolanos que estão abaixo da linha da miséria, aos que sobrevivem com uma refeição em dias alternados, aos que enterram os filhos vítimas de negligência institucional e a todos os que pagam impostos neste País. Aumentar 50% do salário mínimo quando o "preço do arroz aumentou 139% desde 2017" (Jornal Expansão n.º 659 e INE) só pode ser mesmo uma medida eleitoral e não um aumento consciente baseado na realidade do País. Essas e outras urgências têm sido ignoradas pelos comités de especialidade do partido e, por isso, o MPLA não foi capaz de fazer nascer a consciência da boa governação, da transparência e da valorização da sua bandeira que defendia que "o mais importante era resolver os problemas do povo".

É reconhecida a imagem moribunda do MPLA e foi sobre a promessa do nascimento de uma Pátria com moralidade que o Presidente João Lourenço ganhou as eleições. Esta promessa garantia a dignidade dos mais pobres e a protecção de um povo que estava abandonado. Foi a promessa de um novo País que lhe deu a vitória. Não foi o MPLA, estéril em princípios, que ganhou. Mas o resultado deste primeiro mandado foi manchado pela ausência de amor pelo próximo e de um plano inclusivo assente na concertação. Da janela das casas do "povo em geral" é visível a falência da capacidade de entenderem a gravidade de uma situação, a urgência da sua resolução e o que acontecerá se não forem tomadas as medidas necessárias para resolver a questão. A estratégia de governação do MPLA é a de quem compra um Bugatti "La Voiture Noire" (18 milhões de dólares) mas contrata um motorista que está descalço.

Num ambiente de escassez de recursos como, sistematicamente, nos conta o Governo, qualquer país que ame o seu povo deve adoptar o papel do responsável, chefe de família, que perde o emprego. As suas despesas jamais poderão incluir o luxo, o supérfluo, o incongruente nem o absurdo. A prioridade é colocar comida na mesa da família para que consigam, como mínimo olímpico, comer as 2.100 kcal que a OMS recomenda por pessoa/dia. A preocupação é colocar as necessidades básicas da família no topo das prioridades. Quem não for capaz de entender isto não está à altura de satisfazer as necessidades do povo e não merece, por isso, a confiança do Soberano para em seu nome governar.

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