segunda-feira, 27 de junho de 2022

Oceanos: o significado de palavras e conceitos na Conferência de Lisboa - SIC Notícias - inglês

A segunda Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que decorre em Lisboa entre 27 de junho e 1 de julho, pretende procurar soluções para os problemas do ecossistema que cobre mais de 70% da superfície da Terra.

Ao longo dos cinco dias irá falar-se de temas como acidificação, anoxia, sobrepesca ou economia azul, entre muitos outros. O presente glossário, sem pretender ser exaustivo, explica sumariamente o significado de algumas das palavras e conceitos que irão pontuar os debates:

Acidificação

Baixa do pH (indicador de acidez, neutralidade ou alcalinidade) da água do mar devido ao aumento da concentração de dióxido de carbono dissolvido, potenciado pelas atividades humanas.

O dióxido de carbono produzido pelos humanos e lançado para a atmosfera também se dissolve na água do mar e torna-a mais ácida, causando desequilíbrios a dificuldade de formação de conchas e carapaças calcárias por moluscos e crustáceos.

Desde a primeira revolução industrial, a acidez dos oceanos aumentou 30%.

Águas territoriais

Espaço marítimo onde os Estados exercem direitos de soberania. Podem ir até às 12 milhas marítimas (22 quilómetros) a partir da linha de costa.

Alterações Climáticas

Mudanças nos ciclos climáticos naturais do planeta atribuídas aos efeitos da atividade humana, especialmente às grandes quantidades de dióxido de carbono lançadas na atmosfera pelo uso intensivo de combustíveis fósseis.

Causam fenómenos como o degelo dos polos, desertificação, extinção de espécies, destruição de habitats, incêndios florestais mais violentos, subida do nível do mar, secas, inundações e tempestades extremas.

Anoxia e Hipoxia ou Desoxigenação oceânica

A hipoxia é a redução do nível de oxigénio no mar, atribuída às alterações climáticas, poluição e aumento dos níveis de dióxido de carbono nas águas.

A anoxia é a ausência total de oxigénio, causando ‘zonas mortas’.

Estudos indicam que dentro de 60 anos cerca de 70% dos oceanos podem ter falta de oxigénio, o que irá afetar a vida marinha e levar à extinção de muitas espécies.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) alertou há dois anos para o problema, provocado pelas alterações climáticas e pela poluição por nutrientes, e disse que havia 700 locais no oceano com falta de oxigénio, muito mais do que os 45 locais registados na década de 1960.

Cientistas dizem que a anoxia pode ser um dos impactos mais graves das alterações climáticas nos oceanos. Se as grandes correntes oceânicas diminuírem de intensidade a água fica mais parada, favorecendo a reprodução em larga escala de organismos como o plâncton, e havendo um aumento da biomassa há um decréscimo do oxigénio, levando ao aumento de zonas mortas.

Aquecimento global

Aumento da temperatura no planeta, potenciado pela atividade humana nos últimos cerca de 100 anos.

A década passada foi a mais quente alguma vez observada e, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), desde 1980 que cada década é mais quente do que a anterior. Em 2019 a temperatura mundial superou em 1,1 graus celsius (ºC) a média na época pré-industrial (anterior a 1850). Com a atual situação a OMM estima que as temperaturas subam três a cinco graus até ao fim do século.

Aquicultura

Criação de organismos marinhos – peixes, moluscos ou algas – em ambiente controlado e com objetivos comerciais ou de subsistência.

Áreas protegidas

Locais geograficamente delimitados, no mar ou em terra, destinados à preservação de ecossistemas e nos quais são reguladas ou proibidas determinadas ações humanas.

Biodiversidade

O mesmo que diversidade biológica, a variedade de seres vivos, entre plantas e animais, que constituem a Vida na Terra e que resultam de milhões de anos de evolução.

Branqueamento de Corais

Processo pelo qual algas microscópicas que vivem em simbiose com os corais são expelidas devido ao aumento da temperatura da água associado ao aquecimento global e que muitas vezes leva à morte dos corais, que perdem a cor. Os recifes de coral são ecossistemas muito ricos e fundamentais para muitas espécies.

Camada de ozono

“Escudo” nas camadas altas da atmosfera formado pelo gás ozono que protege o planeta contra as radiações ultravioletas do Sol. Sem a camada de ozono (que à superfície é um poluente com efeitos nocivos para a Saúde) não haveria vida na Terra. Os gases com efeito de estufa produzidos pela humanidade destroem a camada do ozono e quanto mais fina ela for menos capacidade protetora tem.

Circulação termoalina

Circulação oceânica global constituída por grandes correntes oceânicas e gerada por diferenças de densidade da água, que ocorrem devido a variações de temperatura e de salinidade. A circulação termoalina transporta água mas também calor, oxigénio e nutrientes e é responsável, por exemplo, pelo clima temperado na maior parte da Europa.

Os cientistas têm alertado que o aquecimento global pode, a longo prazo, fazer cessar a circulação termoalina, essencial para a vida no planeta, através de fatores como o derretimento das calotes polares, que pode alterar a salinidade dos oceanos. Um estudo publicado na revista Nature indicou que o fluxo da circulação termoalina diminuiu 30% desde 1950. Os cientistas notam que uma interrupção da circulação termoalina levaria à extinção da vida no planeta.

Comissão Oceanográfica Intergovernamental

Comissão criada pela ONU em 1961 para promover a cooperação e a investigação científica sobre os oceanos.

Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

Tratado da ONU de 1982 para regular o espaço marítimo, como os limites da Zona Económica Exclusiva ou da Plataforma Continental dos países, e os direitos e obrigações dos Estados em assuntos como navegação, poluição, uso de recursos ou preservação marinha.

Convenção da ONU sobre diversidade biológica

Tratado internacional assinado no Rio de Janeiro em 1992 que tem como objetivo a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável da natureza e a partilha justa e equitativa dos benefícios gerados pela utilização dos recursos naturais.

Convenção de Ramsar

Tratado internacional assinado em 1971, no Irão, para proteger as zonas húmidas, considerados ecossistemas fundamentais.

Cordilheira mesoatlântica

A maior cordilheira de montanhas do mundo, sob o Oceano Atlântico e o Oceano Ártico. As ilhas dos Açores são picos dessa cordilheira.

Degelo das calotes polares

Derretimento das camadas de gelo das regiões polares acelerado pelo aquecimento global, um fenómeno que se acentua em cada ano. O gelo da Gronelândia e da Antártida está a derreter seis vezes mais depressa na atualidade do que há 30 anos. Provoca o aumento do nível médio do mar e destrói habitats.

Depressão Challenger

O ponto mais baixo da superfície terrestre, na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, com quase 11 mil metros de profundidade. Poluição por plásticos já foi detetada neste ponto mais profundo e inacessível dos oceanos.

Desenvolvimento sustentável

Ou sustentabilidade. Modelo de desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer as necessidades futuras. Caracteriza-se pela preservação da natureza e do meio ambiente. Uma gestão sustentável da pesca e aquicultura é a que pode ser mantida a longo prazo sem colocar espécies e habitats em risco.

Economia Azul

Atividades económicas que exploram os recursos ligados ao mar, mas de forma sustentável.

Ecossistemas marinhos e costeiros

Sistemas biológicos compostos por seres vivos e restantes elementos. Praias, lagoas, estuários, recifes de coral ou dunas são exemplos de ecossistemas marinhos e costeiros, que incluem também, por exemplo, os mangais (na transição entre o ambiente terrestre e aquático e ecossistema fundamental) ou as restingas (depósitos arenosos paralelos à linha de costa).

El Niño e La Niña

Fenómenos climáticos de variação de temperatura da superfície do oceano Pacífico que por norma acontecem com intervalos que variam entre dois e sete anos e que têm repercussões em todo o planeta, afetando os ciclos globais das chuvas.

O El Niño dá-se quando há um aquecimento acentuado das águas superficiais do Pacífico Equatorial, devido ao enfraquecimento dos ventos alísios.

O La Niña consiste no arrefecimento acentuado dessas mesmas águas.

Energia dos oceanos

Energia elétrica gerada pelo movimento dos oceanos, através das marés (maremotriz) ou das ondas (ondomotriz). É limpa porque não emite gases poluentes e é renovável e constante.

Eutrofização

Resultado do enriquecimento excessivo das águas com nutrientes ou matéria orgânica, proveniente especialmente de atividades como a agricultura, aquicultura, indústria e esgotos de cidades. Provoca a multiplicação excessiva de algas e bactérias, que fazem baixar o nível de oxigénio dissolvido, colocando em risco a sobrevivência de peixes e outros organismos marinhos.

Fenómenos Climáticos Extremos

Situações anormais – como temperaturas recorde (ondas de frio e de calor), chuvas de intensidade inédita, secas severas e persistentes, ventos excecionalmente violentos e furacões de grande intensidade, ou inundações em grande escala – que os cientistas dizem estar associadas à influência humana no clima.

Cientistas avisam que os fenómenos climáticos extremos aumentarão de frequência e de intensidade. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse recentemente que o número de fenómenos climáticos extremos já é cinco vezes maior do que em 1970.

Fontes e Chaminés hidrotermais

Fissuras na crosta terrestre dos fundos marinhos por onde sai água a elevadas temperaturas, geralmente associada a fenómenos vulcânicos.

As fontes, chaminés e campos hidrotermais foram descobertos nos anos 1970. São fenómenos que criam locais ricos em nutrientes e de grande variedade de animais marinhos em zonas onde a luz solar já não penetra. Quando a água quente expelida entre em contacto com a água fria circundante, acontece a precipitação dos minerais dissolvidos na água quente, que se depositam à volta da fonte, formando chaminés hidrotermais. Nos Açores há três importantes áreas hidrotermais profundas.

Gases com efeito de estufa

Gases que absorvem as radiações infravermelhas emitidas pelo planeta e impedem que elas se dissipem para o espaço, aquecendo a Terra ao provocar um efeito de estufa. A produção desses gases é natural mas foi exponencialmente aumentada pela atividade humana, sendo a queima de combustíveis fósseis a principal responsável.

O principal gás é o dióxido de carbono (CO2). O metano tem menores emissões mas um efeito de estufa 80 vezes mais potente que o CO2 e a sua concentração na atmosfera tem vindo a aumentar na última década. Cerca de 60% do metano emitido resulta da atividade humana e grande parte provém da agricultura. Os gases fluorados com efeito de estufa, os mais conhecidos os HFC, (utilizados em equipamentos de refrigeração) geram um efeito de estufa que investigadores consideram 23 mil vezes superior ao CO2.

Mineração submarina

Exploração mineira no mar, à semelhança do que se faz em terra. Requer diferentes tecnologias e é mais dispendiosa mas mesmo assim já está a ser feita, dada a grande quantidade de minerais e metais preciosos que se encontram em mar profundo. Apesar de ser uma indústria ainda no começo têm surgido diversos alertas de cientistas e preocupações sobre o impacto nos ecossistemas e habitats sujeitos à mineração em mar profundo.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

17 metas estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas para um mundo mais sustentável até 2030. É a chamada Agenda2030.

Oceanos

Extensões de água salgada que ocupam mais de 70% da superfície da Terra. São fundamentais para regular a temperatura no planeta e responsáveis pela produção de grande parte do oxigénio. Além de serem fonte global de alimentos, são também fulcrais na rede global de transportes e em setores económicos como o turismo.

Organismos pelágicos e bentónicos

As duas grandes categorias dos seres vivos marinhos. Organismos pelágicos são os que vivem na coluna de água. A zona pelágica pode ser dividida consoante a profundidade e os organismos que nela vivem são diferentes também. Os organismos bentónicos são os que vivem no fundo ou junto ao fundo.

Pesca ilegal, não reportada e não regulamentada

Pesca ilegal acontece quando são violadas as leis e os acordos internacionais. Pesca não reportada acontece quando as embarcações omitem informações sobre capturas ou locais de pesca. Pesca não regulamentada acontece quando são usadas embarcações sem nacionalidade ou que se praticam ações que colocam em causa a sustentabilidade. Quase 20% da pesca no mundo é ilegal, não reportada ou não regulamentada.

Plâncton

Organismos microscópicos, animais ou vegetais, que vivem em suspensão na água. É um grupo muito diversificado de organismos, que inclui larvas de muitas espécies de peixes e crustáceos, que está na base da cadeia alimentar, servindo de alimento a grande variedade de outros seres vivos, incluindo as baleias.

Plásticos e microplásticos

A poluição por plástico é um dos maiores problemas para os oceanos. Em cada ano são despejados no mar mais de oito milhões de toneladas de lixo plástico, um material que não se degrada durante centenas de anos mas que se fragmenta em pequenas partículas igualmente prejudiciais, os microplásticos.

O plástico funciona como armadilha para os peixes, por exemplo restos de redes, é muitas vezes confundido com alimentos, e espalha-se por toda a parte devido às correntes marinhas.

Estima-se que em 2050 os oceanos contenham mais toneladas de plástico do que de peixe.

Plataforma continental

Espaço marítimo previsto na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Sobrepõe-se ao limite exterior da Zona Económica Exclusiva de 200 milhas náuticas mas compreende apenas o solo e o subsolo marinhos. A Zona Económica Exclusiva relaciona-se apenas com a coluna de água.

Portugal tem há mais de uma década um projeto de expansão da Plataforma Continental, procurando definir o limite externo do solo e subsolo até onde o Estado possa exercer poderes de soberania e jurisdição. A ser aprovada a extensão serão mais 2,4 milhões de quilómetros quadrados além da Zona Económica Exclusiva.

Pirataria marítima

Ataques de piratas a embarcações. Acontecem com mais frequência na costa da Somália e no Golfo da Guiné.

Salinidade

É a proporção de sal dissolvido na água, variando em função de vários fatores, como a evaporação ou a quantidade de água doce que se mistura (rios a desaguar ou degelo, por exemplo). A salinidade média dos oceanos é de 35 gramas de sal por quilo de água.

Face à escassez de água potável há também uma grande aposta na dessalinização, processo que consiste em retirar o sal da água do mar usando processo físicos e químicos.

Sobrepesca

Captura de pescado de forma insustentável, superior ao que é considerado o limite a partir do qual se causam danos ao ecossistema, levando à diminuição de espécies e mesmo ao esgotamento. Estima-se que quase um terço dos ‘stocks’ de pesca esteja em estado de sobrepesca.

Subida do nível do mar

Fenómeno decorrente das alterações climáticas. Acontece especialmente devido ao derretimento de glaciares e das calotes polares. O nível dos oceanos está a subir em média três a quatro milímetros por ano e há estudos que indicam que essa média está a aumentar. Até 2050 os oceanos e mares poderão subir 30 centímetros e entre 53 e 70 centímetros até 2100.

Tratado Global dos Oceanos

Projeto de acordo mundial para garantir que 30% dos mares sejam protegidos até 2030 que está a ser negociado, podendo ser concluído em Lisboa. Seria um instrumento para proteger as águas que não fazem parte das responsabilidades de países.

Stocks pesqueiros

Quantidade de pescado disponível para alimentação humana. Resulta da avaliação da diversidade e da abundância de peixes e de outros organismos marinhos na zona costeira de um país.

Sumidouros de Carbono

Absorção natural do CO2 presente na atmosfera, através por exemplo das árvores, e de todas as plantas, pela fotossíntese. Os oceanos também são um importante sumidouro de carbono. As algas absorvem ainda mais CO2 do que as plantas terrestres. Já existem experiências para a criação de máquina que funcionem como sumidouros de carbono artificiais.

Zona Económica Exclusiva

Espaço marítimo com um limite máximo de 200 milhas náuticas (370 quilómetros) a partir da costa, como foi definido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Nela um determinado Estado exerce poderes de soberania e jurisdição, mas apenas em relação à coluna de água.

Zona eufótica e zona afótica

A Zona Eufótica é aquela em que a luz solar penetra na coluna de água, por norma até cerca de 200 metros de profundidade, e é onde se concentram mais organismos. A Zona Afótica é a parte dos oceanos onde a luz solar direta já não se faz sentir. Já não tem, por exemplo algas, mas alberga grande variedade de organismos adaptados à ausência de luz e grandes profundidades.

SAIBA MAIS:

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