O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, quer que o coração do rei D. Pedro IV, guardado a cinco chaves (assim, mesmo, não sete, como na expressão popular) na Igreja da Lapa, seja exposto, “pelo menos, de cinco em cinco anos” na cidade.
“A minha ideia é que se crie um pressuposto e princípio, naturalmente eu já cá não estarei, que, pelo menos uma vez, de cinco em cinco anos, haja uma exposição do coração”, disse Rui Moreira, à margem da assinatura do protocolo que define as condições da transladação do coração do monarca, entre o município do Porto e a Embaixada da República Federal do Brasil em Lisboa.
Aos jornalistas, o autarca independente lembrou que o coração “precisa de sair da urna”, nomeadamente, para que sejam substituídos os líquidos que permitem a sua conservação.
Lembrando que este é um “bem cultural insubstituível”, Moreira defendeu que a exposição do coração à cidade permitirá às novas gerações perceberem o seu “significado": “O coração tem um significado simbólico que vai além da relíquia”, acrescentou.
Antes de viajar temporariamente para o Brasil, o coração do “rei soldado”, que chegou ao Porto em Fevereiro de 1835 e que raras vezes saiu do mausoléu da capela-mor da igreja da Lapa, esteve durante este fim-de-semana em exposição.
Para o retirar do pequeno caixão de mogno guardado no mausoléu são precisas cinco chaves e mil cuidados. Conservado em formol dentro de um recipiente de vidro e, este, dentro de uma espécie de taça de prata dourada, o coração de D. Pedro IV, primeiro imperador do Brasil, atraiu nos últimos dois dias mais de seis mil pessoas, portuguesas e estrangeiras.
O coração do monarca, cujo corpo se encontra na cidade brasileira de São Paulo, atravessa esta noite o oceano Atlântico para marcar presença nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil, antiga colónia portuguesa que o rei conduziu à independência.
A transladação, prevista para quando passarem vinte minutos da meia-noite de segunda-feira, será acompanhada pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, que levará pessoalmente o coração ao Brasil com o apoio da Força Aérea Brasileira (FAB).
O coração de D. Pedro chega na segunda-feira pelas 9h30 (13h30 de Lisboa) à base aérea de Brasília, onde será recebido com honras militares. Da base aérea, a relíquia segue para o Palácio de Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, na capital brasileira, de onde só sairá na terça-feira, pelas 16h locais, para marcar presença numa cerimónia no Palácio do Planalto, sede da Presidência, às 17h.
Depois da cerimónia, onde estará presente o Presidente da República brasileiro, Jair Bolsonaro, o coração regressa ao Palácio de Itamaraty, onde será apresentado ao corpo diplomático e onde ficará em exibição “controlada” até às comemorações do bicentenário da independência, a 7 de Setembro.
As diferentes cerimónias serão acompanhadas pelo presidente da Câmara do Porto que, na quinta-feira de manhã, preside no Instituto Rio Branco a uma sessão sob o tema genérico “Dois povos unidos por um coração: o significado político e simbólico de D. Pedro para Portugal e o Brasil”.
Apesar de o autarca regressar a Portugal, o coração do monarca continuará a ser acompanhado pelo comandante da Polícia Municipal do Porto, António Leitão da Silva.
O coração de D. Pedro deverá regressar à cidade do Porto a 9 de Setembro, ficando de novo em exposição nos dois dias seguintes, antes de voltar a ser guardado a cinco chaves.
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