segunda-feira, 13 de setembro de 2021

O 11 de Setembro e o significado do Afeganistão para as Bundeswehr alemãs - Diário de Notícias - Lisboa - inglês

Há vinte anos atrás, o 11 de Setembro mudou o mundo e a forma como nos relacionamos com ele. Percebemos que o terrorismo enquanto ameaça pode, de facto, manifestar-se em qualquer lugar e a qualquer momento, o que parece ter adquirido maior importância pelo facto do ataque ter ocorrido nos EUA.

Como notado pelo então chanceler alemão Gerhard Schröder, tratou-se de um ataque não só aos EUA, mas também de uma declaração de guerra contra todo o mundo civilizado. De igual modo, e logo no dia seguinte, o ministro da defesa alemão Peter Struck referiu que "Hoje somos todos americanos".

Pese embora tenha declarado uma uneingeschränkten Solidarität (solidariedade sem restrições) aos EUA na luta contra o terrorismo internacional, a verdade é que Schröder estava a pensar seguir a via do diálogo cultural, recorrendo prioritariamente a meios políticos e económicos. O recurso à guerra contra os Estados apenas se justificaria se estes estivessem directamente envolvidos no terrorismo.

Foi, portanto, nesta linha, enquanto parceiro da NATO e no seguimento do artigo 5.º do Tratado da NATO (relacionado com o principio da defesa colectiva e estipulando que um ataque contra um aliado é considerado um ataque contra todos os aliados) que o Bundestag autorizou a participação alemã na Operação Enduring Freedom (OEF) no Afeganistão, começada a 7 de outubro de 2001 e destinada a combater aquelas que eram entendidas como as origens do terrorismo internacional e derrubar o regime Taliban em Cabul. Inicialmente, a participação das Bundeswehr era justificada principalmente como solidariedade de aliança, diferente do que se passou no Kosovo onde se verificou uma intervenção humanitária. Seria um esforço de reconstrução, desenvolvimento de infra-estruturas e da sociedade civil, e não uma Kampfeinsatz [participação de combate], correspondendo aquilo que se estava a passar no Afeganistão a um caso de segurança global.

Todavia, na prática, a participação alemã no Afeganistão - uma das maiores da aliança em tropas (com cerca de 160 000 militares)- acabou por ser a mais letal operação militar do país desde a Segunda Guerra Mundial. No fundo, era uma "guerra" como referiu em 2009 o ministro da defesa alemão na altura, Karl-Theodor zu Guttenberg. Uma guerra que tirou a vida a 59 militares alemães e custou cerca de 12,5 mil milhões de euros aos contribuintes em operações de combate e de treino.

No final do passado mês de agosto, regressaram os últimos militares alemães que ainda se encontravam no Afeganistão a participar na missão da NATO Resolute Support. Esta missão, tendo sucedido à missão International Security Assistance Force (ISAF), tinha como objectivo o aconselhamento e treino das forças de segurança afegãs necessárias ao estabelecimento e manutenção da segurança do país a longo prazo.

Efectivamente, e voltando, ao início, o envolvimento alemão na Operação Enduring Freedom, subsequente ao 11 de Setembro, permitiu alargar o perímetro de segurança da Alemanha, até então confinado à área NATO mais Balcãs, exceptuando as operações de curto prazo realizadas em África. A própria NATO viu-se confrontada pela primeira vez com uma guerra assimétrica e com as dificuldades de lidar com forças irregulares numa missão híbrida.

Por outro lado, a experiência do Afeganistão fez com que as Bundeswehr passassem a ter experiência em operações ofensivas (quando até então tinham apenas experiência em operações defensivas), tendo sido a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que o país esteve envolvido, de facto, em acções de combate real, como sublinhado há uns anos pelo

general Harald Kujat, ex-Chefe do Estado-Maior das Bundeswehr (entre 2000 e 2002) e ex-Presidente do Comité Militar da NATO (entre 2002 e 2005). Daí que podemos afirmar que há um antes Afeganistão e um depois Afeganistão para as Bundeswehr alemãs, na medida em que esta foi, até ao momento, a sua mais importante experiência.

Doutora em Estudos Estratégicos pela Universidade de Lisboa

Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa

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