sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Pronome não-binário incluído num dicionário consagrado agita linguistas em França - Expresso - inglês

A introdução de um pronome não-binário no Le Petit Robert, conceituado dicionário francês, suscitou reações contraditórias entre os linguistas do país. A publicação incluiu na sua edição digital do mês passado o pronome “iel”, junção de “il” (ele) e “elle” (ela). Embora o termo esteja a ganhar popularidade entre os jovens, está longe de ser amplamente usado, ou sequer compreendido, por muitos falantes de francês.

Embora de início a mudança tenha passado despercebida, esta semana abriu-se um forte debate numa nação que se orgulha da sua tradição de direitos humanos, mas também protege ferozmente o seu legado cultural da intromissão estrangeira. De um lado estão os tradicionalistas, incluindo dirigentes políticos, que criticam a medida como sinal de que a França está a inclinar-se em direção a uma ideologia “acordada” ao estilo americano; do outro, uma nova geração de cidadãos que adotam o não-binário como norma.

“É muito importante que os dicionários incluam o pronome ‘iel’ nas suas referências, pois isso reflete como o uso do termo é agora bem aceite”, disse Dorah Simon Claude, estudante de doutoramento, de 32 anos, que se identifica como ‘iel’. A seu ver, esta é também uma forma de “confrontar a Academia Francesa, que permanece no seu canto conservador e continua a ignorar e a desprezar os utilizadores da língua francesa”.

O ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, não concorda. Escreveu na sua conta da rede social Twitter que “a escrita inclusiva não é o futuro da língua francesa”.

O ex-professor de direito, de 56 anos, alertou que os alunos não deveriam usar “iel” como termo válido, apesar da sua inclusão no “Petit Robert, visto como uma autoridade linguística em francês desde 1967.

François Jolivet, deputado partido centrista República em Marcha, do Presidente Emmanuel Macron, também deixou claro o seu desgosto, afirmando que os pronomes não-binários são “um sinal preocupante de que a França está a adotar uma ideologia ‘acordada’“. O parlamentar escreveu ao bastião da língua francesa, a Academia Francesa,e Française com 400 anos, alegando que a “campanha solitária de ‘Le Robert’ é uma intrusão ideológica óbvia que mina a língua comum e a sua influência”.

O diretor-geral das edições Le Robert, Charles Bimbenet, saiu em defesa do dicionário, quarta-feira, através de um comunicado. “Longe de ditar que termos devem ser usados, ‘Le Petit Robert’ estava a elucidar o significado da palavra, agora que está a crescer em todo o país”, referiu.

Uma vez que “o significado da palavra ‘iel’ não pode ser compreendido lendo-o sozinho”, disse Bimbenet, “pareceu útil especificar o seu significado para aqueles que o encontram saberem se desejam usá-lo ou... rejeitá-lo”. A missão do dicionário é “observar e relatar a evolução de uma língua francesa mutável e diversa”, defendeu o editor.

Em 2017, a Academia Francesa alertou que movimentos para tornar a língua mais neutra em termos de género criariam “uma língua desunida, com expressões díspares, que podiam criar confusão ou ilegibilidade”. Línguas com género, como o francês ou o português, são vistas como obstáculo particular para os defensores de termos não-binários, pois todos os substantivos são categorizados como masculinos ou femininos, ao contrário do que sucede no inglês.

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