quinta-feira, 7 de abril de 2022

Escritora comanda encontro sobre tradução e criação poética - Diário da Região - Dicionário

Referência na tradução literária, a escritora, poeta e tradutora Simone Homem de Mello, de São Paulo, estará em Buritama neste sábado, 9, às 9h, para participar de um encontro sobre tradução e criação poética no Acervo e Pinacoteca “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”, no prédio do Centro Cultural “Graciliano Ramos”. Ex-aluna e amiga do semioticista, poeta e ensaísta Aguinaldo Gonçalves, Simone irá compartilhar seu vasto conhecimento com escritores, poetas, artistas e público em geral. A entrada é gratuita.

Neste encontro, Simone afirma irá chamar atenção para o fato de que o Brasil é um país com uma tradição muito forte de poesia, mas que a arte acaba se restringindo a poucos leitores, em parte fanáticos, deixando para a maioria das pessoas a impressão de ser algo inacessível. “Se a arte da poesia já é considerada inacessível, a da tradução de poesia (na qual o Brasil também é um país de ponta), então, parece ser ainda mais restrita. De fato, para se ler poesia, é necessário saber decifrar os diversos estratos da linguagem poética que, como a música, requer uma 'alfabetização', por assim dizer. Na palestra que vou dar, pretendo desmistificar um pouco essa imagem de inacessibilidade que a poesia e a tradução poética despertam e falar do processo criativo dessas duas artes.”

Confira a entrevista com Simone Homem de Mello.

 Diário da Região - Qual é a importância da tradução e criação poética hoje na sociedade?

Simone Homem de Mello - A tradução é onipresente em diversos âmbitos das nossas sociedades, cada vez mais globalizadas. No entanto, ela é tão presente que se tornou invisível. Muitas pessoas leem uma tradução brasileira de Shakespeare, por exemplo, e dizem que leram Shakespeare. Não ocorre à maioria dos leitores que, ao ler uma obra traduzida, estão lendo um tradutor brasileiro e não o autor original. A poesia transita por todos os estratos sociais, com tradições eruditas e populares, mas ainda é condenada a um confinamento em guetos. O lugar que a poesia tem numa sociedade diz muito a respeito dessa sociedade: qual o valor que ela dá à palavra, ao simbólico. E, por ser uma linguagem altamente singular, de um único indivíduo, a poesia faz frente às formas de comunicação altamente massificadas e manipuladoras da grande mídia, que infelizmente é a que, em grande medida, rege (e restringe) o imaginário da população.

 Diário - O encontro é indicado para algum público especial?

Simone - Todos são bem-vindos. Vamos desmistificar essa imagem de que a poesia é para poucos iniciados.

 Diário - O que achou deste convite do professor para este encontro?

Simone - Fiquei muito honrada com o convite, porque o Aguinaldo Gonçalves, que foi meu professor na escola, é um dos responsáveis pelo meu imenso apreço à literatura. É uma pessoa de sensibilidade rara, raríssima, capaz de apontar sutilezas em todas as coisas. Estou muito feliz de poder conhecer e de falar no Centro Cultural Graciliano Ramos, que abriga o acervo bibliográfico e artístico do Aguinaldo. Acho maravilhoso um acervo tão precioso estar numa cidade pequena: uma prova de que as melhores coisas estão em toda parte.

Diário - Você é escritora e tradutora literária. Pretende lançar algum livro este ano?

Simone - Sim, agora em maio, vai ser lançado um livro que fiz com traduções de um poeta moderno de língua alemã chamado Arno Holz, que viveu na virada do século XIX para o XX e passou grande parte da vida ampliando um único livro, um poema que se tornou ilegível de tão extenso: o Phantasus. É um poeta radical em todos os sentidos, com grande inventividade verbal. O livro – intitulado Phantasus: poema-non-plus-ultra e editado pela Editora Perspectiva, na coleção Signos, dirigida por Augusto de Campos – contém traduções minhas de fragmentos desse poema imenso. No aparato crítico, falo não só do autor e da singularidade da sua obra, mas também esboço uma teoria de tradução de poesia de vanguarda.

Diário - Desde 2011, você coordena o Centro de Estudos de Tradução Literária do museu Casa Guilherme de Almeida. Tem alguma programação aberta ao público?

Simone - Toda a programação da Casa Guilherme de Almeida, um museu do Estado de São Paulo, é gratuita e aberta a todos os interessados. Durante a pandemia, passamos a fazer toda a nossa programação online e, mesmo após o gradativo retorno ao formato presencial, continuaremos a organizar cursos, oficinas e palestras virtuais. Vale a pena conferir as atividades que o museu oferece à distância: https://casaguilhermedealmeida.org.br/.

Encontro sobre tradução e criação poética, com Simone Homem de Mello. Neste sábado, 9, às 9h, no Acervo e Pinacoteca – “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”, em Buritama.

‘Também quero ouvi-la’

No ano passado, o semioticista, poeta e ensaísta Aguinaldo Gonçalves doou o seu acervo de livros e pinturas para o Centro Cultural "Graciliano Ramos", de Buritama, sua cidade natal. De sua biblioteca particular, Gonçalves doou cerca de 3 mil livros, entre eles obras raras, como uma publicação de "Os Lusíadas", de Luís de Camões (1524-1580), feita em 1817. Ele ainda doou para o centro cultural de sua cidade natal cerca de 40 telas, muitas de nomes das artes visuais rio-pretenses, como Sebastião Rodrigues, Geraldo Mattos e Maria Helen Curti.

Desde então, o acadêmico passou a promover encontros no Acervo e Pinacoteca “Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves”. Em outubro do ano passado, por exemplo, ele promoveu o Encontro de Estudos de Semiótica Plástica, quando compartilhou experiências e reflexões acerca da pintura enquanto linguagem. Já em dezembro, Gonçalves promoveu o Encontro de Semiótica Poética - Questões Concernentes ao Signo Poético.

Neste sábado, 9, ele celebra a vinda de Simone Homem de Mello para falar sobre tradução e criação poética. “Conheço a Simone há muitos anos. Fui professor dela na adolescência em São Paulo e sou padrinho de casamento com Frederico Barbosa, que é poeta. Ela é incrível, inteligente, sem falar da sua experiência profissional. Ela morou na Alemanha muitos anos. Simone foi por um caminho raro, de pesquisa no campo da música, no campo da tradução de verbetes de ópera. Trata-se de um trabalho sofisticadíssimo. Lá, ela ganhou bolsa para sair da Alemanha e trabalhar melhor na França. Depois, ela voltou para o Brasil. Hoje, ela trabalha no Centro de Estudos de Tradução Literária do museu Casa Guilherme de Almeida, onde ministrei recentemente um curso de Intersemiótica.”

Para Gonçalves, o encontro com Simone não é simplesmente uma palestra. “Simone vai compartilhar informações importantes, com muitos detalhes. Ela também é uma excelente poetisa e vai falar sobre essa relação entre poesia e tradução. Este encontro é imperdível e vai trazer algo novo para Buritama. Também estou na expectativa, também quero ouvi-la.”

Quem é ela:

Simone Homem de Mello estudou Letras (Anglo-Germânicas e Latinas) na Universidade de São Paulo, fez mestrado em Literatura Alemã na Universidade de Colônia (Alemanha) e doutorado em Estudos da Tradução na Universidade Federal de Santa Catarina.

Durante seu período de vida na Alemanha (nas cidades de Colônia e Berlim), de 1993 a 2010, trabalhou como autora, dramaturgista, libretista de ópera, tradutora e redatora.

Seus poemas em português estão reunidos nos livros “Périplos” (São Paulo, Ateliê Editorial, 2005), “Extravio Marinho” (São Paulo, Ateliê Editorial, 2010), Terminal, à Escrita (São Paulo, Lumme Editor, 2015) e em antologias brasileiras e estrangeiras de poesia contemporânea.

Como tradutora, dedica-se especialmente à poesia moderna e contemporânea de língua alemã e à obra do escritor austríaco Peter Handke. Coordenou, de 2012 a 2014, o Centro de Referência Haroldo de Campos no museu Casa das Rosas, onde hoje atua como pesquisadora de acervo.

Desde 2011, coordena o Centro de Estudos de Tradução Literária do museu Casa Guilherme de Almeida.

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