sábado, 12 de março de 2022

Alyona prometeu ao marido que não choraria. Olga ainda procura a tradução para "nadiia". E Ihor já sonha com o relvado do estádio de Leiria - Observador - Dicionário

Desde que chegaram, dormem no mesmo camarote, em camas e beliches com lençóis com as cores da bandeira ucraniana — Linda também fica lá.

Enquanto conta a história de como ali chegou, Olga vai pesquisando a tradução em inglês das palavras que lhe vêm à cabeça em ucraniano. Uma delas é “nadiia” — “esperança”, em português. Mas, para já, não sabe o que vem a seguir, apenas que gostaria de paz para poder voltar à Ucrânia, onde ficaram pessoas de quem gosta muito. “Todos os dias escrevemos mensagens ou falamos. A minha mãe chora, a minha irmã pergunta pelas crianças, por mim e pelo meu futuro. Mas eu não sei”, desabafa.

E, enquanto não há condições para regressar, há outras preocupações, como o “tempo que vai demorar para encontrar trabalho, escola e uma casa”. Os mais novos também estão receosos com o terem de ir para “uma escola nova”, com colegas novos “e uma língua difícil para eles.”

Num português esforçado, Olga diz sentir-se agora segura, ainda que admita que vá precisar de muita “força”, porque nada acalma “o coração a chorar” pela sua Ucrânia.

A língua é a maior barreira para quem chega. Mas os primeiros passos já estão a ser dados: a comunidade ucraniana de Leiria, por exemplo, tem ajudado, ensinando até as palavras necessárias para o dia a dia em Portugal. Esta sexta-feira, num quadro de ardósia, estavam ecritas algumas delas — “Obrigada”, “Boa noite”, “Boa tarde”, “Por favor”. E, à frente de cada uma, estava a tradução em ucraniano. O objetivo é que, para já, os refugiados saibam cumprimentar, agradecer e pedir ajuda em português.

Entre as cerca de 20 pessoas acolhidas no Estádio Dr. Magalhães Pessoa, são poucos os que falam inglês, mas entre eles há uma professora que lecionava a língua. Alyona Nevkipilova chegou ao estádio do Leiria na quinta-feira à noite, saiu de Kiev um dia depois de Putin anunciar uma “operação especial” na Ucrânia. A viagem foi longa: passou pela Hungria, Eslováquia, Itália e Espanha. E escolheu Portugal “porque é seguro, não há explosões”. “Nada do que se passava na Ucrânia.”

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