quinta-feira, 22 de abril de 2021

Aula em inglês x aulas de inglês: uma falsa oposição! - Educação Estadão - inglês

Por Sonia Barreira e Sandra Durazzo

É comum ouvirmos educadores de diferentes procedências utilizando a ideia de que algumas escolas, geralmente nas escolas bilíngues, as aulas são em inglês enquanto em outras as aulas são de inglês. Com certa valoração para uma ou outra opção.

Talvez isso ocorra porque as equipes docentes das escolas regulares geralmente não dominam o idioma inglês e é preciso um professor específico para os momentos em que as escolas tratam de estimular o aprendizado do segundo idioma. Nesse caso, o professor que fala inglês é classificado como especialista e caberia somente a ele, portanto, dar aulas de inglês.

Talvez ocorra porque em muitas escolas o ensino do idioma se apoia em metodologias que exploram exclusivamente ou principalmente vocabulário e estruturas gramaticais, e sendo assim o professor especialista seria um instrutor, um explicador e eventualmente um tradutor para que os alunos e alunas possam conhecer as regras desse idioma.

Ocorre que, quando se trabalha com uma concepção de ensino e aprendizagem baseada nas pesquisas sobre como as pessoas aprendem, as opções pedagógicas são bastante distintas. Os estudos psicolinguísticos, da mesma maneira, reforçam a visão de que o aprendizado da língua se dá por meio do seu uso sistemático e da reflexão orientada sobre sua organização e aspectos sociolinguísticos envolvidos na comunicação.

Com isso, as escolas que trabalham com os referenciais construtivistas, como a Escola da Vila, organizam situações de aprendizagem que permitam ao aluno e aluna uma aproximação constante à língua, seja ela oral, escrita ou ainda na forma de um segundo idioma. Assim, imersos numa rotina escolar que se estrutura para, entre outras coisas, levar a criança a processos de socialização e de construção de competências para a vida, os ambientes de aprendizagem propiciam inúmeras situações comunicativas reais que permitem a familiarização e progressivo domínio dos usos das linguagens.

Nessa perspectiva, os minutos diários em que o professor especialista está na sala não podem ser tratados como aulas de inglês. Esse professor assume a função de favorecer e mediar as relações entre os alunos e alunas e os objetos de aprendizagem. Dessa forma, os planejamentos incluem a exploração de diversos momentos da rotina, nos quais há muitas aprendizagens em jogo, e em todas elas há o propósito de favorecer o desenvolvimento de competências linguísticas complexas.

A escola, como um todo, contribui para que o aprendizado aconteça, criando oportunidades para que a segunda língua seja usada e compartilhada. Ao usar a língua inglesa nas situações de aprendizagem, por exemplo, nos momentos de alimentação, as crianças adquirem muitos saberes: aprendem a dividir, conhecem uma diversidade de alimentos, refletem sobre hábitos alimentares saudáveis. Além disso, se apropriam dos nomes dos alimentos em inglês e aprendem a usar estruturas dessa atividade como: I’d like some juice, please; can I have an apple? e outras.

Nas situações de jogos e brincadeiras, além de conteúdos como a gama de vocabulário envolvido e as estruturas usadas para jogar como: it’s my/your turn, roll the dice, follow the leader, os alunos e alunas aprendem a seguir regras, usar estratégias para dar conta da tarefa do jogo ou brincadeira, apoiar e pedir apoio de colegas e tantos outros. Em outro exemplo, nas rodas de leitura, as crianças e jovens têm oportunidade de desenvolver conhecimentos sobre a língua escrita, autores, gêneros literários e culturas diversas. Aprendem a ativar estratégias de leitor tanto ao ampliar seu repertório de vocabulário e referências como ao participar de situações guiadas por leitores experientes, sejam os professores ou leitores convidados, inclusive estrangeiros que podem chegar à sala de aula por meio da internet.

Os propósitos formativos da escola se concretizam pela ação de cada educador. Sendo assim, perde sentido a separação entre ensino em inglês ou de inglês, uma vez que as situações de aprendizagem visam a aquisição de competências múltiplas para que os alunos e alunas fiquem capazes de dar conta de situações comunicativas que acontecem em inglês, com uso de inglês.

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