quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Qual o significado de 'waiver' da fala de Paulo Guedes - Valor Investe - inglês

Numa sexta feira do dia 13 de agosto de 1982, o governo mexicano anunciou que não pagaria as parcelas dos empréstimos externos tomados em bancos estrangeiros. A partir desse fato, o Brasil entrou em um período de sérias dificuldades financeiras que durou por cerca de dez anos.

A história foi contada por Claudia Safatle, em reportagem publicada há nove anos no Valor. Nos anos 80, “waiver” era um termo popular no Brasil.

Assim como o México, o Brasil tomava empréstimos em dólares dos bancos internacionais para financiar projetos de infraestrutura no país. O problema é que havia um descasamento de moedas.

Os empreendimentos no país geravam resultados em cruzeiros, a moeda da época. Entretanto, para pagar os juros e amortizações dos financiamentos externos, o país precisava de dólares.

A moeda americana era usada, também, para a aquisição de insumos destinados à produção local. O mais importante deles, para o Brasil, era o petróleo.

Na época, era um ambiente econômico em que o petróleo estava em alta, os juros dos empréstimos internacionais haviam subido, a economia mundial estava desaquecida e a demanda por produtos de exportação brasileiros havia caído. O resultado dessa combinação era um déficit de dólares nas contas externas do Brasil.

Para cobrir o buraco, o país recorria a mais financiamentos externos. A estratégia das autoridades econômicas era rolar os vencimentos dos empréstimos até que a situação mundial melhorasse.

Entretanto, quando o México, que era um importante produtor de petróleo, declarou a moratória, os bancos privados internacionais se retraíram. A decisão foi de interromper as operações de refinanciamento de dívidas para todos os países em situação semelhante, como o Brasil.

Isso gerou uma crise financeira. Para resolver a situação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) passou a emprestar recursos aos países em dificuldade. E também coordenava o reescalonamento da dívida junto aos bancos privados.

Mas o FMI exigia contrapartidas. A principal delas era que o país em dificuldade aceitasse implementar um programa de ajuste macroeconômico. Invariavelmente, o principal ponto exigido pelo FMI era a redução do déficit público.

Isso envolvia uma combinação de aumento de impostos e redução de gastos governamentais. Consequentemente, eram programas impopulares.

Frequentemente, os compromissos assumidos pelo Brasil não eram cumpridos. Uma missão de técnicos do FMI vinha ao Brasil, examinava as contas públicas e constatava que as metas não estavam de acordo com o que havia sido combinado.

Daí entrava o “waiver”. Para evitar penalizações mais graves e a retirada do aval do FMI aos programas de reescalonamento das dívidas com os bancos, o governo brasileiro precisava pedir um “waiver”. Era um termo de compromisso que combinava um pedido de perdão com a promessa de que novos esforços seriam feitos para cumprir o prometido no futuro.

O tema era explorado politicamente pelos opositores ao governo. E toda vez que o governo anunciava um “waiver”, havia críticas de todos os lados.

Os mais radicais diziam que as autoridades econômicas não tinham sido suficientemente duras e que, portanto, a crise brasileira iria demorar mais tempo para ser solucionada. Seriam os liberais nos termos atuais.

Os mais flexíveis diziam que as metas assumidas pelo governo eram irrealistas e seria impossível superar a crise adotando medidas tão fora do contexto brasileiro. Em termos de hoje em dia, seriam os desenvolvimentistas.

O fato era que, sem uma estratégia definida, o governo ficava exposto às pressões de grupos de interesses. A consequência prática foi um longo período de baixo crescimento econômico.

Com sua declaração sobre o “waiver” ao rompimento do teto de gastos, o ministro da economia Paulo Guedes parece ter trazido a tona as lembranças de períodos difíceis na história econômica brasileira. Isso talvez isso justifique a forte alta do dólar e a expressiva queda do preço dos ativos locais nesta quinta-feira.

Marcelo d'Agosto é consultor financeiro com registro na CVM e tem um blog no Valor Investe

Marcelo d`Agosto — Foto: Arte sobre Foto

Marcelo d`Agosto — Foto: Arte sobre Foto

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