terça-feira, 12 de outubro de 2021

Tradução musical para o cinema de Manoel de Oliveira - Jornal de Notícias - Dicionário

"Manoel", o quarto álbum de originais dos Sensible Soccers, dialoga com duas curtas do realizador que trazem memórias distintas do Porto.

Chegar a um "casamento entre a alma das imagens e a da música" foi o propósito dos Sensible Soccers quando se lançaram ao projeto de musicar "Douro, faina fluvial" (1931) e "O pintor e a cidade" (1956), duas curtas emblemáticas de Manoel de Oliveira que tomam o Porto como protagonista. São duas cidades distantes que nos chegam pela lente do realizador, duas memórias antagónicas, na perspetiva da banda, que encontrou nessa dialética um modo de operar: ora se colam à pele das imagens, ora se lançam a partir delas para voos especulativos.

Havia uma experiência prévia na composição de bandas sonoras: respondendo a uma encomenda da Casa das Artes de Famalicão (CAF), a banda produziu música para "Homem da câmara de filmar", de Dziga Vertov, uma das referências com que Oliveira iniciou a sua obra. A tendência para a criação de estruturas, mais do que canções, terá favorecido esta abordagem, que estimulou o grupo ao passo seguinte: criar dois objetos a partir das imagens "conflituantes" do realizador portuense: um álbum, que "resistisse autonomamente sem as imagens", como explica Hugo Gomes, teclista e programador dos Sensible Soccers; e um cine-concerto, onde os filmes fossem confrontados pela música executada ao vivo (dia 16 de outubro é na CAF). Note-se que os registos estão longe de coincidirem: há temas do álbum que não surgem nos filmes e vice-versa; há versões para cada formato; há faixas esticadas ou encolhidas conforme o meio.

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