terça-feira, 9 de maio de 2023

A mais completa tradução de SP, Rita Lee declarou seu amor pela cidade: da bandeira enrolada em show a paixão pela juventude na Vila Mariana - G1 - Dicionário

A cantora e compositora Rita Lee se apresenta durante o show '4 Gerações Cantam São Paulo', em comemoração ao aniversário de 459 anos da cidade, no Vale do Anhangabaú, no centro de SP — Foto: Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo

A cantora e compositora Rita Lee se apresenta durante o show '4 Gerações Cantam São Paulo', em comemoração ao aniversário de 459 anos da cidade, no Vale do Anhangabaú, no centro de SP — Foto: Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo

Em 2013, Rita Lee voltou aos palcos com hits e declaração de amor por São Paulo no início da turnê dos seus 50 anos de carreira. Entrou enrolada na bandeira da cidade que completava 459 anos. O Centro estava lotado.

Em vários momentos do show, declarou seu amor pela cidade em um sinal de que amou demais, como cantou em "Saúde". Nenhuma novidade vindo de quem nunca escondeu seu amor por tudo que São Paulo representa.

"Eu amo essa cidade. Moro aqui há 67 anos! Daqui eu não saio. (...) Se não fosse São Paulo, o Brasil seria bem menos", declarou durante o show.
Rita Lee em foto de novembro de 1967, quando era vocalista do grupo Os Mutantes — Foto: Ivo Barreti/Estadão Conteúdo/Arquivo

Rita Lee em foto de novembro de 1967, quando era vocalista do grupo Os Mutantes — Foto: Ivo Barreti/Estadão Conteúdo/Arquivo

Na mesma apresentação que lotou o Anhangabaú, soltou que "459 anos, Sampa... Quase tão velha quanto eu". Mas envelhecimento não incomodava a cantora. Em entrevista ao Fantástico, Rita Lee revelou que, em 2019, alterou sua data de nascimento para 73 anos, e não 72, como diziam os documentos.

Já em “Mania de Você”, cantou “Sampa, você me dá água na boca”. Depois afirmou que “se não fosse São Paulo, o Brasil seria menos”. E lançou um “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.

Rita Lee em imagem de novembro de 2004, em São Paulo — Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo/Arquivo

Rita Lee em imagem de novembro de 2004, em São Paulo — Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo/Arquivo

Claro, também tecia críticas. Coisa de quem ama demais. "A porra não para e não vai parar”; um "dá licença, mas eu vou sair do sério".

Rita Lee já havia sido a estrela principal das comemorações dos 450 anos de São Paulo, em 2004. Não à toa, Caetano Veloso, na canção “Sampa”, definiu Rita como a “mais completa tradução” da metrópole.

O g1 selecionou algumas histórias de Rita em momentos diferentes de sua vida em São Paulo.

Rita Lee canta para o público que compareceu ao Vale do Anhangabaú em comemoração ao aniversário de São Paulo — Foto: Paulo Toledo Piza/G1

Rita Lee canta para o público que compareceu ao Vale do Anhangabaú em comemoração ao aniversário de São Paulo — Foto: Paulo Toledo Piza/G1

Aprontando no Pacaembu

"Sou péssima para datas, mas lembro de uma em especial, que rolou na época dos Jogos Panamericanos em São Paulo. Cabulamos aula. Fomos dar um rolê nas provas de atletismo nas arquibancadas do Pacaembu. Uns garotos que também deviam estar gazeteando olham para nós e me “reconhecem” como a nadadora americana Alice Mary Driscoll, da qual nunca ouvira falar. Mais que depressa Virgínia toma a liderança e confirma, se credenciando também como minha treinadora.

O inglês deles era precário, mas o papo rolava beleza: minha irmã disse que estávamos lá com a comissão americana prestigiando nossos patrícios, que ficamos encantadas com a cidade, que a comida brasileira era deliciosa etc. e tal. Prometemos voltar no dia seguinte e a garotada combinou de nos encontrar novamente com mais amigos e até uns recuerdos do “Brésil”, como eles pronunciavam.

Chegando em casa, mãos à obra: descobrir tudo sobre a nadadora, pintar “USA” em duas camisetas Hering, branquear nossos Congas da escola e decorar o endereço de um tio que vivia em Washington caso perguntassem onde morávamos. Atrás das pilastras do Pacaembu, ficamos de tocaia esperando a turminha chegar para então entrarmos triunfantes na arquibancada. Deu certo. Demos autógrafos, posamos para fotos, trocamos moedas, “aprendemos” algumas palavras em português, miss simpatia total", conta em "Rita Lee – Uma Autobiografia", da Globo Livros, lançada em 2016.

É sinal de que amei demais

Nesse textinho, Rita lembra um episódio da adolescência na escola Liceu Pasteur.

"Não compareci à minha colação de grau ginasial, o upgrade escolar seria apenas na troca no uniforme da faixa vermelha do ginásio pela azul do colegial. Por essa época, os Beatles já eram os donos exclusivos dos meus sonhos, a tal ponto que um dia enxerguei entre os alunos da classe vizinha ninguém menos do que George Harrison! Hipnotizada, segui o menino na moita depois das aulas, peguei dois ônibus, fui parar num cafundó sem tamanho, tudo para descobrir onde Harrison morava em São Paulo e só eu no mundo saberia.

Perto do portão da casa dele, ainda de costas, me aproximei do garoto: “Hello, George!”. Quando ele se virou, os violinos histéricos de Psicose começaram a tocar quando vi o rosto do menino que lembrava, sim, o do Beatle, só que com uma tonelada de espinhas. “Hey, garota, você é da minha escola, mora por aqui? Nãooo!", conta na Autobiografia.

Theatro Municipal — Foto: Celso Tavares/G1

Theatro Municipal — Foto: Celso Tavares/G1

"Lembro que a única loja de discos atualizada em São Paulo era a Hi-Fi, na rua Augusta. Esperei horas na fila para comprar o primeiro LP dos Rolling Stones. O planetário do Ibirapuera era o must semanal, e depois da sessão, uma banana-split na lanchonete ao lado. Conhecia Sampa de ponta a ponta, do Museu do Ipiranga à Galeria Metrópole, da Augusta a Interlagos, do Bixiga à praça da Sé.

Lembro quando construíram o Conjunto Nacional, das escadarias elegantes do Cine Metro, dos lampiões do Theatro Municipal, da sempre emocionante travessia do viaduto do Chá, da vista no topo do Banco do Estado, do chiquê do edifício Martinelli, das arcadas românticas da faculdade do largo de São Francisco. Lembro até do observatório astronômico no lugar onde hoje fica o Masp", diz trecho da Autobiografia.

Planetário do Parque Ibirapuera, onde corpo da cantora Rita Lee será velado na quarta (10) — Foto: Reprodução/TV Globo

Planetário do Parque Ibirapuera, onde corpo da cantora Rita Lee será velado na quarta (10) — Foto: Reprodução/TV Globo

Vila Mariana em todo lugar

As lembranças da Vila Mariana, bairro onde nasceu, são sempre citadas nas suas histórias. Foi na Vila Mariana que Rita cresceu e teve seu primeiro filho. Suas histórias passam pelo casarão da rua Joaquim Távora, passeios na floresta Ibirapuera e muitas aventuras na casa da rua Pelotas.

"Eu devia um trabalho bacana para a Som Livre depois de tudo o que João Araújo fez por mim. Num encontro mágico com meu querido Paulo Coelho, surgiu a ideia de um compacto-bomba com uma música para escandalizar de vez os bons costumes da mpb. Entre gargalhadas, compusemos “Arrombou a festa”, inspirada na “Festa de arromba”, hit jovenguardiano. Lembro que parafraseamos várias pérolas que Raul comentava na intimidade sobre artistas brasileiros.

Tirando Elis, não poupamos ninguém.

Sucesso retumbante nas rádios, o disquinho vendeu feito água, trocentos shows na cola. Um recorde brasileiro para o formato. Mas rolaram desavenças. "Rob se mudou para São Paulo e alugamos um microapê na rua Eça de Queiroz, na Vila Mariana, tocando nossa vidinha, agora nem tão besta assim. O novo endereço da prisão domiciliar teve de ser novamente registrado e nessas os guardinhas perderam a boquinha do cafezinho com bolo, pois tinham que dar plantão no lado de fora do portão do edifício", diz no livro.

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