sexta-feira, 19 de maio de 2023

Constituição e Lei Maria da Penha ganham tradução em idioma indígena - Revista Galileu - Dicionário

Uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e coordenada pelo presidente da Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, e pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Ribamar Bessa, irá introduzir a Carta Magna à língua indígena. A informação se tornou pública nesta quinta-feira (18) pelo site oficial da Agência Brasil.

Ao todo, segundo a nota, quinze tradutores indígenas estão trabalhando em uma tradução da Constituição Federal para a língua tupinambá mais falada pelos povos que vivem na região amazônica, a nheengatu. Conhecido como uma língua geral da Amazônia, o nheengatu começou a ser formado espontaneamente por meio de contatos entre indígenas de diferentes etnias. Contudo, a língua passou por diversas transformações por conta da influência dos colonizadores portugueses, sendo a maioria missionários religiosos que buscavam padronizar a língua.

Em nota, a definição do pesquisador Hildo Couto, autor de Introdução ao Estudo das Línguas Crioulas e Pidgins, define o nheengatu como idioma cujo léxico é constituído a partir do tupi, enquanto a gramática se aproxima do português.

“Como o nheengatu tem uma relação importante com a língua portuguesa, no sentido de ser permeável, a gente vai dar uma ampliação maior no diálogo com a perspectiva jurídica". Lucchesi destaca em nota oficial, além de apontar duas questões associadas a essas iniciativas: disseminar o direito e dar protagonismo às línguas originárias.

Junto desse projeto, um outro ocorre paralelamente para traduzir a Lei Maria da Penha, conhecida por estipular punição adequada a atos de violência doméstica contra a mulher, para idiomas indígenas, atendendo uma demanda apresentada pelo pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).

Além disso, o projeto se alinha com um dos objetivos da Biblioteca Nacional sob sua gestão, que é aumentar o acervo da instituição relacionado aos povos indígenas e outras populações tradicionais do país.

“São quase 300 línguas no Brasil, segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Estamos conferindo e organizando o ordenamento dos livros bilíngues, para que a Biblioteca também os acolha”, explica em nota Lucchesi, que se diz preocupado em ampliar o dossiê étnico brasileiro e que considera que a Biblioteca Nacional é o espelho da memória do país. “ Se o Brasil desaparecesse e a Biblioteca Nacional ficasse, ela teria a capacidade de especular, refletir e devolver a imagem do país, porque aqui existem vários brasis”

Atualmente, a ampliação do acervo já está em andamento, a instituição tem guardado fotos de populações do Vale do Javari, no Amazonas, produzidas no mês de março durante expedição que contou com a participação de Luchesi. E, nos próximos dias, serão recebidas cópias de cartazes criados pelo TJMT que trazem informações importantes nas línguas maternas de vários povos indígenas.

O tempo estimado para que a tradução da Constituição Federal seja traduzida completamente é em outubro, que será lançado junto de uma cerimônia na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). De acordo com a Agência Brasil, essa é a primeira versão da Carta Magna em idioma indígena.

Um outro projeto da Biblioteca Nacional, que está em curso, é a intensificação de projetos de internacionalização da cultura brasileira. Sendo um deles a concessão de bolsas de tradução de obras brasileiras com demanda de leitores em outros países. Um dos exemplos dessa ação é a tradução em ucraniano da obra "A Paixão Segundo GH", de Clarice Lispector, que nasceu no país europeu, mas veio para o Brasil ainda pequena.

Para isso, somente esse ano, um aporte de R$ 1 milhão foi feito pelo Ministério da Cultura para financiar as bolsas. Segundo Lucchesi, a instituição pleiteia recursos também para a expansão do prédio anexo e para acelerar a digitalização das obras, que conta com um terço do acervo de mais de 10 milhões de itens está digitalizado

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